Após pedir exoneração de secretário da PM, secretário de Segurança do Rio 'quebra protocolo' e pede desculpas em cerimônia de posse (2024)

A decisão, no entanto, gerou desconforto durante a cerimônia de posse, realizada na Academia de Polícia Militar, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio, que reuniu parlamentares, prefeitos e vereadores. Ao discursar, o secretário de Segurança "quebrou o protocolo" e pediu desculpas ao coronel Pires pelo pedido de exoneração, que ganhou repercussão antes de ser atendido, afirmando que a decisão teria causado "um constrangimento muito grande" entre ele e o governador.

— Um agradecimento especial ao coronel Henrique por todas as entregas que fez durante a sua gestão. Agora, pessoalmente, governador, gostaria de quebrar o protocolo e pedir permissão ao senhor para falar sobre um assunto que foi essa mudança na Polícia Militar. Indicamos o nome do eventual substituto do coronel Henrique, isso teve uma polêmica muito grande na imprensa, todo mundo comentou. Isso causou um constrangimento muito grande, então, eu quero aqui, em público, na presença de todas as autoridades, pedir desculpas ao coronel Henrique pela forma como se deu. Não foi o previsto, não era o combinado e a minha gestão como policial sempre foi com justiça, honra e verdade e humildade também. Então não tenho nenhum problema de pedir desculpa ao senhor — disse Victor Santos, em referência ao envio do documento sobre a exoneração do então secretário da PM.

— Não lhe procurei antes porque não adianta toda essa exposição na mídia, de eu ir pedi desculpas ao senhor no seu gabinete pessoalmente. Faço isso aqui publicamente. As portas estão abertas da Secretaria e de toda a sua equipe. Muito obrigado, fiquem todos com Deus — finalizou.

Ao descer do púlpito, Pires e Santos não se cumprimentaram. E os rumores de atrito entre os dois permaneceu até o final do evento.

Castro teceu elogios ao ex-secretário, e afirmou que Pires "fez história na corporação".

— Eu não tenho dúvida que você (Luiz Henrique Pires) fez história na Polícia Militar. Henrique, lá atrás, quando eu resolvi colocar alguém já reformado, mas com uma larga experiência, uma vastíssima experiência à frente da Polícia, naquele momento, você era a melhor decisão. E como o nosso Padre Marcelo leu aqui, eu não tenho dúvida que você pegou os cinco talentos e você os transformou em mais cinco. Você pegou a Polícia Militar extremamente sucateada, com sistema ainda da Copa do Mundo, sem câmeras, sem toda a questão de imagem, com as viaturas, ainda as viaturas já compradas pela intervenção, começando a sucatear — disse o governador.

Sob o comando do coronel Pires, a PM utilizou em grandes eventos, como no réveillon e carnaval, câmeras de reconhecimento facial, equipamento que, em tempo real, tem as imagens captadas cruzados com o banco de fotos de foragidos da Justiça.

— Hoje você entrega uma Polícia Militar com a maior valorização da história do policial. Nossa polícia tinha o segundo pior salário do Brasil e hoje tem o terceiro melhor salário do Brasil. Você entrega uma Polícia Militar com mais de mil viaturas semi blindadas, com diversos batalhões com kits para que a gente possa tirar as barricadas. Você entrega a Polícia Militar tendo feito um trabalho fantástico, tanto nos dois últimos réveillons e nos dois últimos carnavais do Rio de Janeiro — afirmou Castro em discurso.

O coronel Marcelo Menezes, durante o seu discurso, disse saber "dos desafios que tem pela frente" com a troca de comando e afirmou que, durante o seu comando, pretende manter o legado de uma "PM tecnológica".

— Há 34 anos, aprendi que precisamos estar preparados para cumprir qualquer missão com idealismo e destemor, com profissionalismo e dedicação. Hoje, estou aqui para assumir, com muita honra, a mais nobre das missões que um oficial da nossa bicentenária e gloriosa corporação poderia almejar. Eu sei que os desafios que terei pela frente são enormes, mas todos serão vencidos. Compor a linha de comando da PMERJ, com sua história e com sua responsabilidade, exige muito mais que vontade, exige compreensão da relevância do cargo, principalmente pelo que representa, enfrentar e vencer a criminalidade. Seguimento aos projetos e programas que estão no caminho certo. Seguiremos a lógica da continuidade e da preservação dos recursos públicos. Estabeleceremos diretrizes balizadoras de nossas ações. Dentre elas, o investimento em tecnologia, modernização da nossa estrutura, planejamento estratégico voltado para eficácia administrativa e operacional. Nesse sentido, nosso comando estará empenhado firmemente na valorização do nosso policial — afirmou o novo secretário da PM.

Luiz Henrique Pires, discursou no púlpino por quase dez minutos. Durante a fala, agradeceu pelo tempo em que ficou à frente do comando da PM e ressaltou a importância dos projetos estruturados nesses quase três anos:

— Defendi e valorizei a minha instituição. Há dois anos e oito meses, assumi publicamente o compromisso de imprimir uma série de ações voltadas para engrandecer a nossa corporação, valorizar os nossos policiais militares e prestar um serviço de segurança pública. Resultados obtidos nesse período comprovam que obtivemos isso em nossa missão, apesar de todas as dificuldades inerentes à gestão de uma instituição pública e a complexidade no nosso Estado — afirmou o ex-secretário ao enumerar os resultados entregues.

— Seria extremamente cansativo citar todas as nossas entregas, contudo em respeito também à consciência e dedicação dos companheiros de farda que estiveram do lado, sinto-me na obrigação de numerar, mesmo que de forma subsinta algumas realizações. Restruturamos e resgatamos a credibilidade da nossa área de inteligência. Investimos volumes de recursos sem precedentes de tecnologia, implantamos um vírgula montonamento com o reconhecimento facial do primeiro mundo, transformamos o serviço de emergência 9.0 para digital em todo o território do estado, criamos e desenvolvemos novos aplicativos. Enfim, recuperamos e transformamos o Centro Integrado de Common Control no verdadeiro hub de tecnologia — pontuou o ex-secretário.

Segundo Pires, durante a sua gestão, foram mil viaturas semiblindadas, veículos blindados de transporte de tropa, ambulâncias blindadas, compra de armamento, aquisição de coletes e capacetes balísticos. E, mais recentemente, a aquisição de novos uniformes.

— O desenvolvimento de aplicativo com empresas de transporte e compartilhamento de câmaras e sensores cadastrados no Programa 190 Integrado, ilustra esse avanço. O meu sentimento de dever cumprido vai muito além das conquistas materiais. Minha maior fonte de orgulho nesse período à frente da corporação está na valorização do nosso bem mais valioso, o policial militar — completou.

A exoneração de Luiz Henrique Pires foi publicada em Diário Oficial em 18 de abril. No dia seguinte, Castro prestigiou o ex-secretário ao assinar e publicar em Diário Oficial as promoções da corporação da PM, mantendo a lista de indicados que Pires deixou pronta, entre coronéis e tenentes.

Nogueira foi nomeado ao cargo na última quinta-feira. O militar está na PM há 34 anos, já comandou diversas unidades e possui vasta experiência como chefe de sessões de planejamento, inteligência, operacionais e administrativas. Ele esteve, em 2022, à frente da Coordenadoria do Programa Estadual de Integração de Segurança (Cproeis) — que tem parcerias com prefeituras para aumentar o número de policiais nos municípios, conhecido como "bico oficial".

Em ofício enviado ao governador, no último dia 11, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro pediu a troca no comando da corporação. No documento, Santos solicitou a exoneração de Pires. Para a nomeação, no entanto, indicou o coronel Ranulfo Souza Brandão Filho, comandante do Comando de Operações Especiais da PM desde 2015. O documento sigiloso vazou, o governador não aceitou o nome do indicado e a tensão se instaurou no governo.

No entanto, segundo fontes do governo ouvidas pelo GLOBO, mesmo com a indicação de Brandão, outros nomes, como o do coronel Menezes, foram cogitados a assumir o cargo por Castro. O secretário apresentou ao governador uma lista com seis nomes.

Nos corredores do Palácio, os rumores de que a indicação de Brandão causou desconforto ressaltaram que o governador não estaria entusiasmado com tal nomeação para o comando da secretaria.

Durante entrevista, Castro afirmou que decidiu nomear Menezes ao cargo "por critérios técnicos". E que, apesar da indicação de Santos, a palavra final seria a dele.

— A troca já era prevista. A gente entende que é um cargo de dois ou três anos. Eu entendo a questão do secretário Victor. Infelizmente documentos vazam. A ideia dele não era ser contra o coronel Henrique, mas a favor da indicação que ele estava tendo. O secretário pode indicar. Mas toda nomeação é feita pelo governador. Essa função é minha, e eu não abro mão. Então, nós chegamos num consenso e eu nomeei quem eu queria. Vamos dar continuidade nos programas de tecnologia, fundamental para que a gente continue evoluindo nos dados. Que é algo que eu já vinha conversando com o coronel Henrique e agora conversei com o coronel Menezes.

Nogueira foi nomeado ao cargo na última quinta-feira. O militar está na PM há 34 anos, já comandou diversas unidades e possui vasta experiência como chefe de sessões de planejamento, inteligência, operacionais e administrativas. Ele esteve, em 2022, à frente da Coordenadoria do Programa Estadual de Integração de Segurança (Cproeis) — que tem parcerias com prefeituras para aumentar o número de policiais nos municípios, conhecido como "bico oficial".

A cerimônia de posse do novo secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo Menezes Nogueira, reuniu, também, parlamentares de centro-direita da Assembleia Legislativa do Rio, deputados federais do Partido Liberal, além do vereador do Rio Carlos Bolsonaro.

O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro chegou acompanhado de assessores e de parlamentares da Alerj, membros do Partido Liberal, Progressistas e União Brasil. Entre eles, Rodrigo Amorim, Doutor Serginho, Célia Jordão, Guilherme Delaroli, Marcelo Dino, Marcio Galberto, Munir Neto, Elton Cristo e Índia Armelau. Apenas o presidente da Alerj, Rodrigo Barcellar, atualmente filiado ao União, não esteve presente.

Pouco antes do início do evento, o coronel Marcelo Menezes foi cumprimentado pelos parlamentares com acenos e fotos. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, Menezes, além de amplo conhecimento técnico, tem boa articulação política, o que teria sido crucial para a escolha dele ao cargo por Cláudio Castro.